"Mig äger ingen"
Agora você pode pensar que o livro é simples e direto. Tipo “história-triste-de-menina-com-pai-alcoolista”. A diferença é que Åsa Linderborg conta a história dos dois com um enorme afeto pelo pai. A generosidade não diminuiu mesmo depois de ele ter começado a beber tão intensamente que parou de pagar o aluguel e quando ela, na sua adolescência, resolveu ir morar com a mãe (com quem sempre manteve contato) porque doia demais ver a decadência dele.
Åsa Linderborg é jornalista de cultura de um dos jornais mais vendidos da Suécia. Além de contar sua história familiar, Linderborg descreve a história das classes suecas. Os trabalhadores, os intelectuais, os políticos. Tudo isso visto por intermédio de um pai trabalhador e de uma menina que cada vez mais se parece e pensa como a mãe, uma intelectual comunista. Mas o mais impressionante: não há ódio no livro. Há, sim, claro, raiva adolescente de um pai tão amado mas que é incapaz de resolver sua vida de forma diferente, sem o álcool. Há raiva, não ressentimento. Não há egoismo, do tipo “olha o que você fez comigo”.
O livro é um banho de generosidade e de capacidade de enxergar os limites alheios, mesmo as limitações daqueles que crescemos considerando os seres mais perfeitos do planeta. Chorei quando acabei de ler. Vale muito a pena.
Lido em sueco.




Li duas vezes seguidas o livro de Jenny Diski, jornalista britânica de quase 60 anos e que ganha a vida como repórter de turismo e escritora. E sei que daqui a um tempo provavelmente farei várias releituras. A prosa dela é tão suave, cheia de informação e humor que me deixa feliz e muito inspirada. Esse livro é composto por textos sobre três viagens da autora, durante as quais ela paradoxalmente buscava a solitude e a imobilidade. Parece deprê, mas não é não. Aliás, morri de rir com muitos trechos do livro, que mistura passagens da vida de Diski com viagens dela à Nova Zelândia, a um cottage no meio do campo inglês, onde ela morou sozinha por dois meses, e à Lapônia sueca. Diski é daquelas que começa a descrever o dia em que resolveu sair para dar uma caminhada (apesar de ser uma pessoa avessa a exatamente isso, se mover) e que na estrofe seguinte escreve sobre a vida, a morte, escritores, filosofia etc. Fascinante.

Péssimo
